quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

MULHERES E SEUS PACTOS

Nunca critiquei minha mãe sobre minha criação, muito pelo contrário. Aqui mesmo, no Blog, sempre elogiei sua força,  a liberdade que deu à minhas escolhas e como respeitou cada uma delas. Mas hoje tenho uma crítica, uma reflexão.
Aqui em casa somos 3 mulheres ( Eu, mãe e irmã) e sempre fomos nós 3 até quando havia meu pai. Sempre planejamos juntas, tomamos decisões juntas, dividimos tudo: problemas, medos, dúvidas, dívidas, decisões, tudo; sem que isso tirasse de cada uma sua liberdade de escolha. As vezes, só o que rolava era e é o apoio, até mesmo para fazer merda.
Um PACTO de lealdade, de respeito, de amor.
O problema (sim, existe um problema) é que esse pacto criou em mim a falsa ilusão de que esse era o modelo ideal de convivência. O meu modelo de uma relação de companheirismo onde tudo se fala, tudo se dividi, tudo se compartilha. Ledo engano! Esse é o modelo da minha família. É assim que nós somos. 
Busquei em outras relações de amizade e amorosas construir esse pacto e não consegui, porque essa era minha visão de mundo e de mais ninguém. Não sou melhor que ninguém por causa disso, apenas cresci nesse modelo de ajuda mútua. Onde ser sincera foi o máxima.
Me lembro de contar pra minha mãe quando deixei de ser virgem como se contasse de ter ido ao cinema; não tive medo, vergonha, receio, porque sabia que seria acolhida e ela sabia que eu tinha escutado todos os seus conselhos sobre prevenção e respeito próprio. Sempre foi assim para tudo. 
Nas relações amorosas gostaria muito de encontrar um companheiro ao invés de um marido. (Não preciso de marido!) Um companheiro de vida, pra dividir tudo: anseios, projetos, dúvidas, dívidas, sonhos, sem que cada um perdesse sua identidade. Mas enquanto eu sabia que isso era possível, o outro se achava invadido, criticado, roubado em suas escolhas. Tudo bem! Dói, mas sobrevivesse! A questão é que contínuo sem precisar de um marido! 
Não sei se é possível um PACTO de lealdade, respeito e amor com um homem! Não sei se é possível um PACTO de companheirismo entre os sexos! Não sei se existe um casamento assim! 
Na minha família há laços muito maiores que o amor.
Somos mulheres! Somos bruxas! 



quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

MULHERES ( e homens) QUE DETESTAM A VERDADE

Eu acho hilário alguns comentários das redes sociais referente a verdade. Em sua maioria o que se lê é que as pessoas que dizem a verdade ou são sinceras são mal educadas, são agressivas, etc. Que sinceridade demais pode vir travestida de ataques ao direito do outro, blá blá blá... 
Se a verdade incomoda tanto, o que as pessoas desejam é a mentira? A mentira doce que vem disfarçada mas que açúcara o ego de quem escuta. A mentira que satisfaz suas necessidades, que embasa seus pensamentos, seus argumentos. Que não fragiliza suas verdades rasas. 
Desculpem, mas eu prefiro a verdade que me machuca mais que me põe diante da realidade de atitudes, dos sentimentos, das ações, da vida real. Não quero perder meu tempo construindo e desconstruindo impressões.
Uns dos meus lemas de vida (Esse é o mesmo a décadas) é que falo a verdade por que mentir dá muito trabalho. Preciso ficar lembrando o que disse e como disse para cada pessoa que cruzar. Ficar atenta para não cair em contradição. Isso é um saco! Mando logo a verdade e fico livre. Por que falar a verdade é libertador!
Ah se os mentirosos soubessem disso.
A verdade é libertadora em si mesma, ela não te condena, não te pune, não te diminue... Por pior que ela seja.
Mas os mentirosos - alguns são crônicos - temem a verdade por que temem o julgamento. Outros temem a verdade simplesmente por que não querem ser contrariados. 
Existe a mentira necessária? Algumas pessoas defendem que sim.
Porque  contar a verdade sobre uma doença terminal de um marido à esposa, quando estão juntos a 50 anos e o sofrimento vai ser perigoso? Porque contar a mãe que fumou seu primeiro cigarro de maconha, se foi o primeiro e último? Porque contar que você ficou no bar com os amigos ao invés do trabalho para esposa que ficou em casa cuidando dos filhos? Poucos exemplos para se evitar um mal maior?
Seria, se a mentira não tivesse pernas curtas, como diz o ditado. Nenhuma mentira que envolve outra (s) pessoa (s) está protegida. E a descoberta da mentira é mil vezes pior que a própria mentira.
Porque é TRAIÇÃO. Traição de confiança, traição de responsabilidade, de relação, de atitude. E o traidor é, geralmente, egoísta. Ele se relaciona consigo, com seus desejos, com suas necessidade, suas conveniências.
Eu digo a verdade, é sei que a verdade nem sempre é fácil. Mais facilitar a vida de quem amamos enganando-as não dá pra mim.


domingo, 12 de janeiro de 2020

MULHERES QUE PERDOAM

Analisando o perdão diante das palavras de Mário Sérgio Cortella, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé.
Programa Roda Viva, TV Cultura, 17/12/19

Primeiro: perdoar quem não quer ser perdoado é inútil , não porque você está certo e o outro errado ou vice versa, mas por que simplesmente o outro não julga que tenhamos nada do que perdoa-lo. Então surge o dilema da arrogância que pressupõe que quem perdoa se julga certo em relação ao outro desconsiderando toda a vivência, toda a experiência e consciência do outro.

Segundo: aquele que perdoa teria portanto o poder. É aquele que detém a verdade, a honradez daquele que perdoa. Mas aquele que não entende o perdão não é o vilão, apenas uma pessoa que vive de acordo com seus princípios. Princípios esses que fazem sentido para si mesmo, ainda que não para o outro. E se um dos dois (relacionamentos diversos) precisa viver perdoando a pergunta a se fazer é por que quem perdoa permanece na relação se julga, condena e absolve o outro o tempo todo?

Terceiro: caminhando dentro dessa análise se uma das partes se entende culpado e recebe o perdão é um grande ato de libertação. Você entender que fez muito mal a alguém e esse alguém foi capaz de perdoar e dizer "tá tudo bem" é muito importante, ainda mais se aquele que errou conseguir empaticamente se colocar na posição do outro e enxergar o alcance do ato de perdoar diante do que fez. Nesse sentido é um ato libertador para ambos.

Perdoar não é fácil em nenhum nível, por que não basta simplesmente proferir o perdão. Antes você precisa digerir a dor, absorver como o erro do outro te atingiu - pode ser uma calúnia, uma traição, uma mentira, o descumprimento de uma promessa, uma falta, etc - e depois você precisa transformar a decepção em entendimento. Aquele que perdoa é um ser empático, que consegue se  colocar no lugar do outro para tentar entender a atitude, a falha, a falta. Ele consegue ouvir.
Hoje em dia quem perdoa é chamado de idiota, mas concordo com Karnal quando ele diz que aquele que perdoa detém o poder.
Porém, perdoar não significa esquecer. Metaforicamente perdoar, para mim, é como fazer um curativo na ferida. Você se machucou, tratou e agora precisa esperar a cicatrização que pode ser rápida ou não dependendo da extensão do ferimento. Como lemos em vários "memes" por aí, é verdade que o ferimento é muito maior quando vem de alguém que amamos. E, portanto, nada fácil de perdoar porque não é fácil de compreender.
Como alguém que te ama te fere, te magoa, mente pra você?
Por que por ser amor nós estávamos desprevenidos, vulneráveis, desarmados.
A questão pode ser muitas, mas no geral o outro não estava mentindo pra você mas para si mesmo. A calúnia, a traição, a mentira, a falha, a falta existe por que o outro não foi capaz de ser sincero com os próprios sentimentos. Então não vista a carapuça de "onde eu errei". Se você foi enganado na sua sinceridade e foi capaz de perdoar você é infinitamente uma pessoa melhor consigo.