quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

MULHERES QUE SOBRAM



Fazemos opções nossa vida inteira, desde a mais tenra idade. 
O que vestir, o que comer, o que estudar e onde, o que ser quando crescer, quem namorar, em quem acreditar, quando ir e quando parar, onde morar, transar com qual idade, quais amigos escolher, em que arriscar, casar ou não, ter filhos ou não, ficar com os pais ou morar sozinha, trabalhar numa empresa ou ter seu próprio negócio, quando dizer sim e quando dizer não, e por ai vai. 
Fazemos as escolhas baseadas nas nossas convicções (ou na pressão da sociedade), mas acreditamos estar fazendo as escolhas certas. Em família, cada irmão opta por determinados caminhos e lá na frente alguém sobra. Geralmente é aquela (e) que optou por ser solteira (o).
Como se fosse uma punição (o que não deveria ser) a (o) irmã (o) que escolheu ser solteira, não ter filhos, viajar, ser livre, fica com a responsabilidade de cuidar - sozinha - dos pais. 
"Sobra" para ela ou ele a responsabilidade que deveria ser de todos os filhos. Mas como se fosse natural, o discurso mais corrente é que você tem tempo livre, não tem filhos, pode ficar com eles, levá-los ao médico, atender qualquer pedido de socorro a qualquer hora e qualquer dia, sem contar que por não ter família você só pode ter mais dinheiro.
Perai... O solteiro também paga luz, água, telefone, também faz mercado, vai a feira, precisa cuidar da sua casa, lavar roupa, passar (argh), ir ao banco, e tudo isso sem ajuda de ninguém, sem dividir as tarefas. Porque teríamos mais tempo livre? Não seria o contrário?
Quando nossos irmãos jogam na nossa cara esses argumentos, usando de artifícios mesquinhos para nos culpar da nossa suposta ausência, não seriam eles os culpados de abandonar nossos pais?
Conheço uma dezenas de mulheres que ficaram com essa responsabilidade e se culpam.
Se culpam por se sentirem cansadas e irritadas com essa situação. Um conflito emocional muito grande por que querem fugir dessa obrigação, e ao mesmo tempo não se sentem capazes de negar ajuda aos pais. 
A questão é quem abandonou quem.
Se os pais cuidam de até 10 filhos, por que 10 filhos não podem cuidar de 2 pais?
O abandono dos idosos está cada vez pior e a desculpa dos jovens é de que a vida está muito corrida. Imaginem agora com esse novo panorama de que nós teremos que trabalhar até os 90 anos para se aposentar. E como será a relação de filhos com pais idosos que só terão aposentadoria tão tardiamente?
É muito desgastante física e emocionalmente você ficar responsável sozinho pelo bem estar dos seus pais. Ser cobrado pelos seus irmãos que se negam a contribuir por puro egoismo, essa é a verdade. E a contribuição não significa só dar dinheiro, mas dar atenção, fazer um carinho e estar presente.

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