domingo, 3 de março de 2013

MULHER MENINA

(Texto de 06/08/86 – “18 anos”)


Seria tão mais fácil fugir.
Fugir das responsabilidades; fugir do mundo; fugir da vida e deixar só rolar.
Mais rolar para onde? 
Tudo é tão difícil, tão complicado, tão humilhante.
Tudo neste mundo é pura dependência. Você dependendo da mãe, do pai; você dependendo da escola; você dependendo da vida; você dependendo de um emprego; você se humilhando. Cada porta que se abre, há milhões de barreiras que o impedem de continuar ou então, te dá mais força para vencê-las. E eu não sei realmente em qual delas eu estou.
Acho que estou parando; tenho 18 anos e estou cansada, exausta de lutar com coisas que eu sei que são tão fáceis para quem tem dinheiro. Eu vou é fugir! Fugir das responsabilidades; fugir do mundo, fugir de milhares de coisas que vão doendo e se unindo, se unindo sem parar. Às vezes você é obrigado a ver muitos dos seus sonhos escorrem como água pelo meio dos seus dedos; e você não pode retê-los, não pode! Que ódio! Eu quero muitas coisas, mas para obtê-las eu tenho que investir em mim, investimento é dinheiro e para ter dinheiro você tem que se sujeitar a patrões, mandantes, etc, etc, e tudo mais.
Eu nunca fugi, nunca! Mas agora estou cansada!
Tenho 18 anos e estou cansada. Quero apenas e simplesmente realizar meus sonhos, realizar meus projetos. Nunca eu comecei algo que não conseguisse e que não alcançasse... Mas agora um sentimento novo está crescendo dentro de mim e eu não sei qual é.  Só sei que estou querendo fugir.  Fugir!
Ninguém pode me julgar, ninguém sente o que eu sinto; ninguém vive o que eu vivo; ninguém pensa o que eu penso. Só não quero ser futuramente uma mulher amarga, que não teve nada do que sonhou.

"Ainda bem que eu não fugi; ainda bem que realizei muitos sonhos; ainda bem que não me tornei uma mulher amarga; ainda bem que eu amadureci; ainda bem tudo mais..."


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